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O medo da incerteza e de perder o controle



Alguns medos são mais ou menos universais, e explicados biologicamente, numa perspetiva evolucionária, como medo de altura, cobras, ratos, etc…


Mas existem alguns medos que são também universais, com diversificadas formas, porém mais acentuadas em pessoas mais ansiosas, como o medo da incerteza e de perder o controle.


A necessidade de ter certezas, de sentirmos que exercemos controle sobre nós e o mundo que nos rodeia é esperado e sadio. Mas quando a intolerância à incerteza provoca ansiedade, sofrimento, priva da liberdade de escolha e nos impede de viver, muito provavelmente estamos perante uma perturbação de ansiedade. A necessidade de manter tudo sob controle, sejam pensamentos, comportamentos e resultados, nos coloca em estado de permanente alerta, o que muitas vezes leva à uma necessidade de verificação de todos os detalhes. O desequilíbrio entre o desejo de controle e o sentimento do mesmo, ou seja, quanto mais preciso controlar e menos tenho a sensação de que o faço, está ligado a um maior número de comportamentos de verificação. Isto leva muitas vezes à procrastinação, em que vamos adiando o desenvolvimento de tarefas e projetos até se verificar que está tudo correto, em segurança, perfeito. O que leva à não cumprir prazos, projetos inacabados, insatisfação e insegurança.


As pessoas com maior receio de perder o controle se tornam perfeccionistas, não se contentam com uma mera possibilidade, precisam ter certezas quase absolutas. Existem perguntas, verificações, uma roda-viva de questões e pensamentos. Existem sempre problemas nas soluções. É preciso ter a certeza absoluta, só esta é a solução correta.


Quase uma regra: eu tenho de ter a certeza, pois só assim as coisas vão correr bem. Se tiver isto tudo muito bem controlado, tudo vai correr como planejado. Mas como todos sabemos, isto não é possível sempre, talvez quase nunca.


Ora se não conseguimos controlar tudo e há sempre imprevistos, mau planejamento, resultados diferentes dos esperados, o ciclo não para e a ansiedade sobe. Em seguida, na tentativa de baixar o desconforto que a ansiedade provoca, a tentativa de controle é maior. Mas o imprevisto provavelmente acontecerá em algum momento. Afinal a vida não se passa dentro de um laboratório esterilizado, com todas as variáveis controladas. E ainda assim, a evolução acontece quando o imprevisto acontece, o incontrolável, ou seja os resultados das experiências, são algo que não se espera, que não é controlado, incerto. E é daí que nasce a evolução.


Quais são as vantagens de aceitar, tolerar alguma incerteza? Viveria menos ansioso/a, com maior qualidade de vida e aproveitaria mais o momento presente? Muitas vezes não toleramos isto porque subestimamos a nossa capacidade para resolver o problema que pode vir, sentimos que não estamos fazendo o nosso melhor, um sentimento forte de responsabilidade, não consideramos que temos recursos suficientes, internos e externos, para ultrapassar as dificuldades que possam resultar.


Será que a possibilidade incerta pode vir a ser uma oportunidade de crescimento, e não uma ameaça?


Quanto custa deixar ir, e controlar apenas o que está ao seu alcance? Ou seja, no momento presente, escolher não viver uma vida cheia de preocupação e medo. E se isto é difícil sozinho/a, procure um especialista.


Esta postagem não substitui a psicoterapia.

Procure um profissional da área para ajudá-lo.


Ivana Siqueira

Psicóloga Clínica

CRP 05|40028


Rio de Janeiro - RJ

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